sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A nossa história recente está marcada pela inauguração, em 15 de Setembro de 2012, da actual sede. Foi uma tarde de emoções, recordações e renovar de esperanças.
Nessa ocasião tivemos o grato prazer de ouvir o texto, que a seguir publicamos, pela voz do autor, e distinto associado, Dr. Joaquim Carreiras Tapadinhas, profundo conhecedor do nosso passado.
É, pois, com a nossa história que iniciamos as publicações no nosso Blog!
Com o devido agradecimento ao autor, eis o texto:


“ATENEU POPULAR DE MONTIJO
Um percurso singular na cultura montijense

Dentro de 2 anos, ou seja em 15 de Setembro de 2014, esta nossa cidade, que ao tempo era um modesto lugar e se denominava Aldeia Galega, comemorará os 500 anos do foral novo, outorgado pelo rei D. Manuel I, enquanto esta nossa modesta e prestimosa associação – Ateneu Popular de Montijo – festejará também os 75 anos da sua fundação, ou seja, as bodas de diamante, embora no mesmo ano, mas no dia 15 de Dezembro.
São datas simbólicas para a vida dos povos e em especial para os habitantes e naturais desta nossa terra.
Mas hoje, ainda em 2012, aqui neste espaço, e porque somos herdeiros desse passado, estamos reunidos para num amplexo de fraternidade inaugurar uma nova casa para o Ateneu, que servirá para dar alento a uma corrente de convívio e confraternização que é preciso ser reactivada num momento de crise, tanto nacional como internacional.
Não há coincidências, porque como diz o adágio a mesma água não corre duas vezes debaixo da mesma ponte. Mas há analogias, há repetição de ciclos em contextos e situações diferentes.
Este Ateneu nasceu em 1939, no ano em que se iniciou a 2ª Grande Guerra, quando um grupo de jovens, todos com menos de 20 anos, num projecto de paz e harmonia, encontrou um suporte no Esperanto para um combate do qual resultasse um maior respeito e compreensão entre as gentes e as nações, através do melhor conhecimento dos povos entre si.
O Esperanto, essa língua criada pelo linguista e médico polaco Luís Lázaro Zamenhoff (1859-1917), pretendia ser um veículo universal de entendimento e de aproximação sem arremedos de patriotismos e de superioridades.
Isto justifica que o primeiro nome desta associação tivesse plasmado da língua esperantista, Aro da Montijanoj Esperantamikoj, que traduzido para português quer dizer Associação de Montijenses Amigos do Esperanto. Esta designação manteve-se nos primeiros anos antes da oficialização do nome de Ateneu Popular de Montijo e a aprovação oficial dos seus primeiros estatutos pelo Governo Civil de Setúbal, em
1946.
Muitos dos exemplares que pertenceram à primeira biblioteca têm o carimbo da associação esperantista. Sucede até, segundo atesta O Ateneu de 14,07.1946, o seu órgão informativo, a primeira grande discussão que dividiu opiniões foi sobre se a biblioteca devia ter apenas obras escritas em esperanto ou também em língua
portuguesa. Venceu a proposta mais abrangente conforme podemos verificar. Assim, durante muitos anos, os sócios disfrutaram de obras dos melhores escritores nacionais
e estrangeiros, pois havia um espírito formativo na aquisição dos livros. O interesse pelo funcionamento da biblioteca era tão evidente que, na composição dos corpos sociais que dirigiam a colectividade, havia lugar a 2 bibliotecários.
Não deixa de ser significante que tendo o Ateneu nascido num momento de crise internacional, quando o conflito mundial da 2ª Grande Guerra estava activado, ainda que sofrêssemos as suas consequências sem entrar directamente no confronto das armas, estejamos hoje, aqui na sua sede, neste espaço social, também confrontados com uma crise mundial, mais propriamente uma guerra económica e financeira, muito focada na Europa e por isso reflectida atrozmente também em Portugal. E como não há coincidências a principal potência neste emaranhado volta a ser a Alemanha.
Deixemos essas considerações, tão úteis como necessárias, e voltemos ao Ateneu, que tal Fénix renascida, está em festa e é o motivo do nosso encontro.




I – Do sonho à realidade


II – Da clandestinidade à luz do Sol


III – A sede social – inauguração


IV – Mudanças – algumas vezes como o caracol


V – O ecletismo reinante




I – Do sonho à realidade

Não podemos ficar pelos números e pelas estatísticas quando se trata de pessoas e de realidades a elas inerentes.
Dizer que um grupo de jovens fundou uma associação é muito pouco e, por amor da verdade, da justiça e do respeito que o passado nos deve merecer a todos é preciso, sempre que necessário, evocar os seus nomes.
Como se passaram mais de sete décadas desde que o Ateneu foi fundado foi preciso recorrer a fontes. Assim, consultadas as disponíveis, encontramos como fundadores da colectividade, as referências a Norberto José da Silva, Cosme Benito Resina, Joaquim Lavado, Manuel Luciano Lucas Alegria, que quando da inauguração da sede já tinha falecido, António André Lopes Barreto e José das Neves Rodrigues. Destes pioneiros, só está entre nós o nosso amigo e sócio nº 1, Cosme Benito Resina, porque, infelizmente, todos os outros já faleceram. O primeiro objectivo desses jovens foi formar um grupo esperantista e isso foi conseguido muito rapidamente. Reuniam na
oficina de carpinteiro de Manuel Luciano Alegria que tinha apenas 19 anos, que estava situada na actual Avenida dos Pescadores, onde hoje é o Banco Santander e que era conhecida pela oficina do Manel Cerol.
Posteriormente, por influência do filho Norberto José da Silva, o sr. Custódio José da Silva, conhecido também por Custódio Pôlas, pôs à disposição do grupo um recanto da oficina de carpinteiro, no número 13 da Rua Joaquim de Almeida. Aí se viveu toda a actividade do Ateneu, agora com um leque mais alargado de jovens, salientando-se ainda a colaboração de Henrique de Oliveira Dias, um entusiasta que se finou muito novo, até que nos finais de 1945, o Ateneu muda-se para a nova sede, inaugurada oficialmente em 14.07.1946, após aprovação dos estatutos pelo Governo Civil de Setúbal em 23 de Maio do mesmo ano.


II – Da clandestinidade à luz do Sol

De acordo com o que está descrito no número único de O Ateneu, datado de 14.07.1946, um dos grandes impulsionadores para que a secção cultural passasse muito para fora do seu estrito ambiente de grupo foi José das Neves Rodrigues, tipógrafo na Gazeta do Sul, que captou muitos sócios para a colectividade. O Ateneu gerara muita simpatia na população montijense, dado que se tratava de um grupo de rapazes que abandonaram a taberna e o jogo para se instruírem. Como já atrás mencionamos nos finais de 1945 foi alugada a casa que viria a sede oficial, mas havia ainda um obstáculo a transpor. A colectividade não tinha estatutos, logo funcionava na clandestinidade e, apesar da boa vontade, segundo confessam, faltava-lhes a experiência em tais situações. Por essa época funcionava em Montijo, na Rua Bulhão Pato, uma livraria denominada “A Bolsa do Livro”, da qual era proprietário um senhor de nome João Vieira Alves, homem muito vivido e experiente. A sua intervenção junto do grupo foi muito importante e oportuna e foi dele a ideia de mudar o nome de “Aro Montijanoj Esperantamikoj” para Ateneu Popular de Montijo, pois só assim se conseguiriam estatutos para a associação. Ele próprio redigiu um projecto de estatutos que foram aprovados pelo Governo Civil de Setúbal em 23 de Maio, tendo para o efeito servido a boa vontade do então Presidente da Câmara, José Feliciano Ferreira, delegado especial do Governo.
O Ateneu foi uma associação muito respeitada e querida junto da população montijense. Se folhearmos os números especiais do seu jornal, publicados em datas festivas, constatamos a adesão do comércio e da indústria locais que nos honraram com a sua publicidade. Esta é, ainda, uma fonte que nos diz dos estabelecimentos
existentes à época e hoje lamentavelmente, quase todos, desaparecidos. Seguiram-se alguns anos de fulgor na sua vida social com realizações inéditas para a época e que granjearam a admiração de muita gente, havendo alguns associados não moradores em Montijo.


III – A sede social – inauguração

O programa da inauguração da sede social foi preenchido com actividades diárias que decorreram todos os dias desde 14 a 21 de Julho, começando com uma sessão solene no Cine-Teatro Joaquim de Almeida, seguida de uma conferência pelo prof. Álvaro Sousa de Oliveira, sob o tema O Ateneu e a Cultura.
No dia seguinte, 2ª feira, um concerto na Praça da República pela Banda da 1º de Dezembro, dirigida pelo maestro Victor Cândido dos Santos, interpretando obras de Rossini e Verdi, entre outras.
Na terça-feira, no salão nobre da Cooperativa dos Trabalhares Rurais, uma conferência pública da professora e escritora Irene Lisboa subordinada ao tema As vantagens do ler.
Na quarta-feira, serão artístico, no Salão Teatro da Banda Democrática, com entra de prémios aos melhores alunos das escolas primárias oficiais do concelho.
Na quinta-feira, jantar de confraternização, com inscrições (14$00) abertas na sede.
Na sexta-feira, conferência pública no Salão Teatro da Banda Democrática, pelo Dr. A. Francisco Ramos da Costa, economista e Presidente da Direcção da Cooperativa dos Trabalhadores de Portugal, sob o tema Cultura Económica.
No sábado, ainda no mesmo local, conferência pública do Eng.º J. Marques da Costa, denominada Da Instrução Profissional e Técnica em Portugal.
No domingo, confraternização com uma festa campestre na Quinta Rôta no Samouco, abrilhantada por uma orquestra.
Na quarta-feira 24, ainda uma sessão de cinema na esplanada da Praça de Touros, com o filme “A Princesa e o Pirata”, que findaram os festejos.
Como verificamos pelos documentos umas festas de arromba.


IV – Mudanças – algumas vezes como o caracol

Das associações montijenses o Ateneu é a que teve instalações nos mais diversos lugares da antiga vila e actual cidade. Desde as instalações nas oficinas de carpintaria da Avenida dos Pescadores e Rua Joaquim de Almeida, nº 13, enquanto associação sem estatutos, até aos dias de hoje, começando pela primeira sede na Rua Joaquim de Almeida nº 74, 1º até ao actual espaço que hoje aqui se comemora, o Ateneu teve sede na Praça 1º de Maio, mas passado algum tempo voltou à Rua Joaquim de Almeida, 74. Depois mudou-se para a Rua Almirante Reis, para o 1º andar por cima da Mimosa. Daí foi para um 2º andar, por cima do BES, na Praça da República, onde entrou num declínio total. Dali alguém, num momento de desespero, carregou com ele para a Rua Bulhão Pato, onde para além do serviço de biblioteca e do funcionamento da instrução primária se praticava ténis de mesa e onde viveu durante alguns anos, donde se transferiu para a sede que acabamos de deixar.
Voltou novamente a pôr os pés no chão, porque nasceu em piso térreo e agora volta a ele novamente, embora numas instalações de que Montijo se pode orgulhar.
Houve ainda num período áureo em que o desporto amador foi componente das suas actividades, um pavilhão alugado ao sr. Leão, na Rua José Ferreira Pio, onde se praticou hóquei em patins e ténis de mesa. Também em instalações do Onze Unidos funcionava um campo de basquetebol e aulas de ginástica. Inaugurada em Dezembro
de 1948 e durante alguns meses funcionou no Afonsoeiro uma delegação, que era dirigida por Domingos Martins e Horácio de Sousa, que ministrou aulas de instrução primária e que possuía uma pequena biblioteca.
Tal como a Nau Catrineta, este Ateneu tem muito que contar, porque retrata anseios e sonhos, realizados ou não, de muita gente.


V – O ecletismo reinante

Esta colectividade teve fases de uma utilidade extrema para o desenvolvimento cultural da população de Montijo, sem desfavorecer alguma vez o enriquecimento físico tão necessário, que nalguns períodos também cultivou sem concorrer com os clubes essencialmente destinados a esse fim.
Durante muitos anos, quando atingir a 4ª classe, o 2º grau da Instrução Primária, era quase uma licenciatura, as aulas do Ateneu foram a solução para tantos deserdados que na altura própria, na sua meninice, não tinham conseguido tal objectivo. Na documentação relacionada com o funcionamento regular da escola encontramos nomes de pessoas que foram figuras prestigiadas nesta terra e que frequentaram as aulas desta colectividade.
Nos primeiros anos de actividade no Ateneu deram aulas diversos professores do ensino oficial e recordamos os já falecidos Álvaro de Sousa de Oliveira, José Margalho Félix Pinto e Domingos Andrade. Posteriormente, em diversos momentos do funcionamento do ensino primário no Ateneu, mais professores do ensino oficial colaboraram com o Ateneu e estão ainda entre nós.
Ainda na educação forma ministrados, com maior ou menor regularidade, aulas de Inglês e Esperanto, Trabalhos Manuais e os cursos práticos de Português e História.
Na formação profissional, durante décadas, funcionou o curso de Dactilografia e em alguns anos o Curso de Corte e Costura. Também houve aulas de Contabilidade, Cálculo Comercial, Escrituração e Caligrafia e ainda um denominado Curso Comercial.
Em períodos diferentes houve secções dedicadas ao cinema, ao cineclubismo, ao teatro e aos espectáculos de variedades.
As secções desportivas também enriqueceram as actividades propostas e vividas no Ateneu. Começando pelo basquetebol que cedeu a sua equipa ao Clube Desportivo de Montijo para fortalecer o novo clube, passando pelos efémeros patins, ténis de mesa e voleibol. O Xadrez foi a actividade de competição que mais tempo se praticou e que ainda hoje perdura.
Também os sectores do campismo, pesca e a secção organizadora de excursões e passeios, foram duma utilidade evidente, porque ajudaram à confraternização das pessoas, num momento em que muitos viviam isolados e com medo dos convívios.
Quanto ao aspecto cultural propriamente dito, para além das exposições, das palestras e de tantos outros eventos, há a destacar a actividade e utilidade da biblioteca nos anos 40 a 60.
Uma palavra especial para as edições de comunicação que têm o Ateneu como proprietário, “O Ateneu” (1946) e “Aldeia Galega” (1985), que são uma presesnça e uma marca inesquecíveis, ainda que realizadas em épocas diferentes, pois há um espaço de 39 anos entre os dois primeiros números de cada. Porque analisámos com algum cuidado estas duas publicações, desde a sua génese, ressaltou-nos, em relação à primeira, a vontade e o querer de Cosme Benito Resina. Quando à segunda o dedo, diria melhor, a mão de Rui Aleixo está sempre presente. Contudo são diferentes as suas competências, porque contrariamente ao Aleixo, que escreve e assina num momento de liberdade, o Cosme labuta no mar das dificuldades inerentes ao cargo (editor) e tem de estar atento à Censura e deixa que os outros escrevam, porque um homem não pode fazer tudo.
O Ateneu é uma publicação virada essencialmente para aspectos culturais e formativos e está travado por uma censura férrea.
Aldeia Galega nasce em plena democracia, livre de peias censuradoras, mas também num período difícil para a nossa terra e o nosso país. Não é por acaso que no número 2, de Março de 1985, tem um aturado trabalho de análise social sobre as dificuldades que o país atravessa, que intitulou “A Fome espreita em Montijo”.
Isto para salientar que as publicações do Ateneu não foram folhas volantes sem conteúdo prestável, apenas como certificado que alguém se lembrou de publicar. Elas ficam para a história local como documentos duma vivência responsável que sempre norteou esta colectividade.
Vamos olhar o futuro e pensar seriamente que o momento difícil que o país atravessa, por isso o Montijo também, há-de ser ultrapassado como foi o Adamastor e numa homenagem ao jornal “O Ateneu” nº 3, de Outubro de 1947, ou seja de há 65 anos, retirei um pensamento de Blaise Pascal (1623-1662), que diz o seguinte:
-“Toda a sucessão dos homens durante a sequência dos séculos, deve ser considerada como um só homem que subsiste sempre e continuamente aprende”-
Por isso, meus amigos, levado este pensamento à letra, nós somos a sequência dos nossos antepassados e os vindouros sequência de nós, por isso aqui estamos a cumprir esperando que outros o façam.

                                                                                                                                                         15.09.2012
                                             Joaquim Carreira Tapadinhas





sexta-feira, 1 de agosto de 2014


Ao criar o seu Blog, o Ateneu pretende munir-se de mais uma "ferramenta" onde divulgar a sua actividade presente e passada, possibilitando ao mesmo tempo aos seus associados um espaço onde exponham, também eles, ideias, sugestões e críticas.
Sendo um Blog do Ateneu Popular de Montijo, é sobre a vida da colectividade, e suas secções e parcerias, que nele se opinará. Tudo o que for para além disso não caberá aqui, ainda que se possa, ocasionalmente, "abrir a porta" para que se escreva sobre o Montijo, mas sempre com o Ateneu como pano de fundo.
Como em todos os Blogs, também no nosso, os comentários carecerão de aprovação antes de serem públicos, para salvaguarda da imagem da nossa colectividade.
Nesse sentido foi criada uma Comissão Editorial, chamemos-lhe assim, composta pelo Presidente, Carlos Traquina, pelos 2 Vice-Presidentes, Fátima Serra e António Oliveira, pelo Secretário-Adjunto, Fernando Sampaio e pela Suplente, Ana Sampaio. Pode parecer gente a mais, mas tem uma explicação: os 3 primeiros pela inerência dos cargos; o Secretário-Adjunto, porque sendo membro da Secção de Xadrez, caber-lhe-á a área dedicada à modalidade; a Suplente, por ser a responsável pela área Multimédia.
Está em preparação um Regulamento de Utilização do Blog, que irá disciplinar o seu uso. A publicação no Blog será aberta a todos, sócios ou não, mas dando prioridade aos primeiros.
Esperamos que participem para, em conjunto, pensarmos "Ateneu, Cultura e Progresso"

Carlos Traquina; Presidente da Direcção